segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pregação

Dia de domingo fez muito calor. Mais parecia que o sol tinha descido à Terra igual fez o menino Jesus escorregando da cauda da estrela. E fico eu imaginando como deve ter sido pra ele vir lá do céu. Carece de ser coisa de fácil viver no meio desse povo, não senhor. Menino Jesus aqui na cidade é só o que fica no colo de Santo Antônio no altar da igreja, com aquela cara de traquinas, testando a paciência do santo que insiste em fazer o menino aprender a ler. Quer que ele seja estudado! Rico ele já é, tem o reino do céu e assenta à direita de Deus-pai-todo-poderoso. Seu Prefeito, por mais que tente, de menino Jesus tem só um mucadinho de estudo. De menino ele já passou faz tempo e de santo desconfio que nunca teve. E peço todas as noites nas minhas orações que Deus ilumina a vida dele. Quem sabe ele num se arresolve de tomar o caminho das boas aventuranças? Sinhá Mariluce que se apegue com a Santa Clara dela que clareia os passos de Seu Prefeito e mande rezar uma missa bem bonita. Não as de dia de domingo depois do almoço em casa, mas aquelas de dia de domingo de quermesse, a igreja cheinha de gente recebendo o pão da vida na comunhão de olho no doce que vai pra boca depois do ide em paz. Missa de ontem Padre Florêncio fez sermão bonito e cheio de moral e retidão. Disse que pro reino do céu vão os que levam a vida na simplicidade e na honestidade. Dotô Maciel, que tem por trabalho vigiar a cidade de bandido mas vira e mexe anda é resolvendo problema de vida pessoal que pula a janela de casa e para nas bocas da praça, fez que concordava com seu Padre e bem olhou pra algumas pessoas, modo de se certificar que tinham recebido a palavra da salvação. Dotô Maciel que trate de fazer a honestidade, ainda tem muito trabalho de salvar pela frente. Seu Armando, que ouvia com atenção a pregação, fez só abaixar a cabeça. Esse sim, homem direito. Eu, na hora da comunhão, pedi ajoelhada a Nosso Senhor que me aceitasse como sua serva e que nos caminhos tortuosos me guiasse com humildade.

Veja a primeira parte deste texto aqui.

2 comentários:

disse...

Que belo texto doce, uma prosa do interior!

Elaine* disse...

Dá pra ouvir sua voz e seu sotaque quando a gente lê o texto...
Saudade...
mil luas só suas!!