terça-feira, 26 de maio de 2009

Querida Manu,

Hoje desencadeou-se em mim um processo de destruição (ou seria lapidação?) de mim. Ontem abri meus planos para minha mãe, meu maior ponto fraco. Disse a ela tudo, tudo mesmo, Manu. Tudo o que se passou pela minha cabeça nesse último mês. Contei-lhe da vontade de me mudar para Buenos Aires e dos benefícios que essa mudança me traria. Contei-lhe de todos os medos que me paralizam. Ela me olhou atentamente em todos os momentos, perguntou se era isso mesmo que eu queria, e disse, com certo rancor na voz, que era para eu ir logo e tirar isso de cabeça.

Hoje percebi o que se passou naquele momento. Quando conversei com ela, Manu, não estava pedindo permissão para ir ou comunicando uma decisão, eu estava pedindo acolhimento, estava pedindo era para ficar. E ela não me impediu, Manu. Ela não estendeu seus acolhedores braços em atenção ao meu pedido e em socorro à minha alma. Ela não me deu o colo que pedi. E nesse gesto, ela cumpriu com a fatalidade de seu papel de mãe. Senti que seus braços se me escapavam, assim como quando a fonte do seio se seca e não há mais leite para alimentar a criança.

Manu, nesse momento ela me botou no mundo como que dizendo "ainda que me doa, agora é com você". Senti-me sozinho e isso é amor, Manu. Não é o amor que pedi, não é o amor que eu queria. Tive o sábio amor materno que sabe do que precisa sua cria. Esse amor que cega o medo, ainda que eu ainda não esteja pronto para recebê-lo.

Sim, Manu, o amor liberta. Tirei um mundo das costas para ganhar a vazia imensidão do mundo. Estou assustado, mas com mais certeza do chão que piso... desse mesmo chão que a mim não me foge.

6 comentários:

Ralph Luis disse...

Enfim, como já conversamos... o problema está mesmo é em vc!
Parabéns por ter feito! Agora, é com vc! E você pode!!
Bjks

Manu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manu disse...

Querido Lex,

(...)

Sim, o amor liberta.

(...)

Então voe.
Manu

sidnei disse...

Pense assim: na hora em que vc pediu o abraço, ela te virou de costas (mas de frente pro mundo) e abraçou por trás... como quem diz, eu te abraço, mas depois vc segue em frente...

Anônimo disse...

Pois é, só depois que crescemos podemos ter essas concepções.

Belíssimo post ^^

Um abraço Mariano pra você.

R. paschoal disse...

Sábias são as mães, que escondem as lágrimas para nos colocar no mundo...