sexta-feira, 20 de junho de 2008

Tempus fugit

É noite e mais um dia se finda,
nossos dias de incontáveis horas.
Finda também os dias de luz extendida,
ganhamos uma hora
- prorrogação técnica -
grão de areia na imensidão
da praia.
Recolho todos os relógios da casa.
Apago as luzes, deito-me ao seu lado.
O tempo se esvai
na cadência desritmada
das batidas do seu coração.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Bem leve

"Tudo que pensa passa. Permanece
a alvenaria do mundo, o que pesa."
P. Britto

Se me perguntarem sobre a morte, direi que não estou preparado para sua chegada. Arrisco dizer que nunca estarei pronto para tal evento, por mais certo e irremediável que seja. Quando fechar meus olhos, o que será depois? O eterno sono? Uma continuação em outro plano da vida aqui vivida? Nessas horas pode até ser reconfortante imaginar a existência de um ser superior, criador e mantenedor da vida; mas de que me adianta se com suas vastas mãos não afasta de mim o derradeiro fado?

Nascer, crescer e morrer. Para quê? Será capricho dos deuses ou parte de uma obra maior? Não vejo graça em não saber. Sinto-me enganado, iludido, ludibriado. Um joguete nas mãos de... nas mãos de quem? Se há alguém responsável pela vida, que saiba: não há graça nenhuma em não saber o que será depois, o que foi antes e o porquê do agora. Se deve haver sofrimento, resignação, provas e expiações, não sei, mas pergunto a ti: não te compadeces dos vivos que sentem a morte de um ente próximo? Não tens pena de tirar a uma família um membro seu? Como ficam então as belas palavras de compaixão e misericórdia diante de ato tão mesquinho, diante de momento tão solitário?

Há os que na morte vêem beleza. Contudo, digo: graça? Não. Não há. Sua presença incomoda e sufoca.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Amanhã é dia de Santo Antônio

Então amanhã é dia de Santo Antônio, tem missa na Catedral, bênção e distribuição dos pães, muita gente rezando e agradecendo e, além do mais, é feriado. Simpático esse santo. Fui criado para admirá-lo e somos mezzo xarás. Minha mãe, no desespero de engravidar, se pegou na reza com Tõin e depois que ela, enquanto brasileira e católica não-praticante, desistiu, eis que surjo. Uma homenagem justa, afinal foi a única pessoa que ela teve a paciência de esperar até que tomasse alguma decisão.

Santo Antônio era português, de Lisboa, mas viveu e morreu na região de Pádua, na Itália. Lá tem um santuário erguido em sua homenagem onde sua língua, única parte de seu corpo que não se decompôs, fica exposta aos curiosos. É interessante observar como que o catolicismo louva a morte. Da língua de Santantônio até a cruz, os símbolos da Igreja são claras referências ao derradeiro fim. E dia desses, Gusta sabiamente alertou: "imagina se ao invés de louvarmos o filho de Deus morto, louvássemos o filho de Deus vivo". E desse dia em diante minha vida mudou.

Seguidor de São Francisco, nosso amigo aí do post foi pregador também na África. Um belo dia, em regresso à Itália, o barco que o transportava acidentou-se na costa da Sicília e, junto com seus amigos de empresa, ficou alguns dias vagando por lá até ser achado. E sabe quem era um dos amigos do Santo? Fibonacci! Aquele maluco matemático que criou uma seqüência numérica muito doida de onde veio o número áureo, o preferidinho de Deus na arquitetura da natureza.

Só que a vida do gajo não pára por aí. Enquanto Fibonacci trazia do Oriente Médio o número zero para a Europa, revolucionando, assim, a contabilidade e o cálculo dos juros pelos usurários, Santo Antônio fazia o contrário. Utilizando o dom da oratória, convencia o povo a lutar contra a tirania dos agiotas ao dizer que maior tesouro carregava consigo, o que era verdade, ... mas não era tão rápido que trazia a riqueza desejada pelos homens. Talvez seja por isso que minha mãe tenha agüentado esperar.

O fato é que tão querida personagem povoa hoje o imaginário de muitos povos, sendo um dos santos mais famosos no Brasil. Exemplo de sabedoria e virtude, Fernon Martin di Bulhon y Tavera Azeyedo de batismo, Santo Antônio de canonização, é um sujeito muito gente fina de quem eu gosto bagarai!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Canción cubana

Essa vai especialmente para os Belletristas:

¡Ay, José, así no se puede!
¡Ay, José, así no sé!
¡Ay, José, así!
¡Ay, José!
¡Ay!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A sem-noção nossa de cada dia

É certo que todo dia acontece algo de sem-noção conosco. Se você ainda não notou é porque está desatento. Sempre acontece algo inusitado, para não dizer insólito, conosco ou ao nosso redor todos os dias. Ainda que você fique em casa o dia todo deitado na sua cama só olhando para o teto - o que já é um fato por si estranho - esteja certo, irá acontecer algo para quebrar a rotina.

Hoje aconteceu algo assim comigo. Bem, não comigo, mas ao meu redor que atingiu o mau humor em que tenho estado ultimamente. Eis que no meio da aula de Latim ouço o intercurso:

- Fulana, o seu pai chama X?
- Não. Por quê?
- Ah, porque me mandaram perguntar aqui na sala sobre alguém que tem o pai chamado X e que, nada contra, é meio gordinha.
- !!!!

A minha vontade foi intrometer e completar:

- Fulano, seu pai chama Y?
- Não. Por quê?
- Porque mandaram eu perguntar aqui na sala sobre alguém que tem o pai chamado Y e, nada contra, é meio retardado.

Deus, dai-me paciência!